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Carnavalesco Leandro Vieira fala sobre criatividade e futuro do samba

Carnavalesco Leandro Vieira fala sobre criatividade e futuro do samba

Leandro Vieira: Reflexões sobre o Carnaval, Criatividade e Mudanças Recentes

Em uma conversa descontraída com o jornalista Muka, disponível no YouTube, o carnavalesco Leandro Vieira, responsável pelas criações da Imperatriz Leopoldinense e União de Maricá, compartilhou suas reflexões sobre o processo criativo, novos talentos e as transformações recentes no Carnaval carioca. A conversa foi um verdadeiro mergulho na mente de um dos maiores nomes do Carnaval, revelando insights fascinantes sobre a arte de criar desfiles memoráveis.

O Processo Criativo: Simplicidade e Liberdade

Leandro destaca a importância de ir além de argumentos abstratos, buscando conteúdos imagéticos com forte potencial de representação na avenida. Ele acredita na força da simplicidade e da abordagem popular, como demonstrado em seus desfiles aclamados. A criação de um enredo, para ele, é um processo orgânico, influenciado pelas experiências e referências do dia a dia, podendo levar anos para se concretizar. Um exemplo citado é o enredo sobre Betânia, que conecta a figura religiosa do Candomblé à música, mostrando como temas aparentemente complexos podem ser resumidos em essência simples e impactante. Ele defende a liberdade criativa como fundamental, revelando que sempre se posicionou contra imposições externas, buscando a autonomia necessária para o desenvolvimento de seus trabalhos, mesmo diante de tentativas de direcionamento externo.

Patrocínios e a Arte: Uma Relação Possível

Leandro não se opõe a enredos patrocinados, desde que não sejam excessivamente comerciais. Ele argumenta que, em alguns casos, o patrocínio pode abrir portas para pesquisas e investimentos fantásticos, enriquecendo a produção artística. Ele cita o desfile do Bora e Haddad como exemplo positivo de patrocínio que não comprometeu a qualidade artística. A possibilidade de patrocínio para enredos como o de Lampião, por exemplo, é aventada como uma forma de viabilizar projetos grandiosos.

Talentos do Carnaval: Uma Nova Geração em Ascensão

Leandro se mostra otimista em relação ao futuro do Carnaval, destacando a riqueza de novos talentos em diversas áreas: mestres de bateria, mestre-sala, porta-bandeira, intérpretes, músicos e bailarinos. Ele celebra o surgimento de carnavalescos negros e mulheres, representando uma mudança significativa no cenário. A coexistência de novos nomes, como João Vítor Araújo, mestre Vitinho e Pitty de Menezes, com grandes nomes consagrados, como Renato Lage, mestre Ciça e Ito Melodia, demonstra a vitalidade e a continuidade da tradição carnavalesca. A paixão pela arte e a busca pela inovação, apesar das diferenças estilísticas, são os elementos que unem essas gerações.

A Visão da Sociedade sobre o Carnaval: Um Desafio a Ser Enfrentado

Leandro critica a visão utilitarista e superficial que parte da sociedade tem sobre o Carnaval, reduzindo sua importância ao aspecto financeiro e turístico. Ele argumenta que a legitimidade da festa reside em seu valor artístico e cultural. O carnavalesco lamenta a aversão de parte da sociedade ao que é popular, associado à periferia e a grupos marginalizados. Ele defende a necessidade de um esforço coletivo para mostrar ao Brasil a riqueza e a beleza da cultura popular, combatendo preconceitos e desmistificando a visão equivocada que muitos têm do Carnaval.

Mudanças Recentes no Carnaval: Análises e Críticas

Leandro expressa sua discordância com a mudança para três dias de desfile, argumentando que a decisão não se baseou em demandas dos sambistas. Ele acredita que interesses comerciais, principalmente relacionados aos camarotes, influenciaram a decisão, prejudicando a dinâmica e a fluidez do espetáculo. A inclusão de um quarto módulo de jurados, resultando em mais paradas no desfile, também é criticada por engessar ainda mais uma atividade já rigidamente regulamentada. A falta de fluidez, essencial para a magia do Carnaval, é apontada como um dos problemas gerados pelas mudanças. Mesmo o desfile da Beija-Flor, considerado por Leandro como o mais emocionante e digno de título, não atingiu a mesma catarse de anos anteriores. A tendência de tripés majestosos nas comissões de frente também é analisada, sendo apontada como limitadora da criatividade, restringindo as possibilidades cênicas e forçando o uso de recursos como fogo, água e drones. A iluminação cênica da Sapucaí é um ponto que, apesar dos desafios, anima Leandro, que acredita que ainda há espaço para melhorias. Ele defende a necessidade de um equilíbrio entre uma iluminação impactante e a preservação da dinâmica do desfile, evitando que efeitos luminosos se percam em função da distância.

O Sistema de Avaliação: Uma Questão de Justiça

Leandro defende o fechamento das notas ao fim de cada noite de desfile, argumentando que a avaliação deve levar em consideração as condições específicas de cada noite, já que se trata de um espetáculo a céu aberto, sujeito a variações climáticas e de público. Ele acredita que o fechamento das notas por noite garante maior justiça na avaliação, evitando que a memória e o julgamento dos jurados sejam influenciados pela exaustão ou pela comparação direta entre as noites de desfile.

A conversa com Leandro Vieira foi uma verdadeira aula sobre Carnaval, revelando a complexidade da criação, a importância da liberdade artística e a necessidade de uma visão mais ampla e respeitosa sobre essa manifestação cultural tão rica e significativa para o Brasil.

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