Erros no julgamento do samba-enredo do Carnaval 2025 causam polêmica

A Polêmica do Samba-Enredo: Julgadores em Xeque no Carnaval do Rio 2025!
O Carnaval do Rio de Janeiro é uma festa de cores, ritmos e, claro, muito samba. Mas por trás do brilho da Sapucaí, um debate acalorado vem ganhando as manchetes: a avaliação dos sambas-enredo. As justificativas dos jurados para o Carnaval 2025, recém-divulgadas, levantaram uma série de questionamentos e reacenderam a discussão sobre o que realmente se espera de uma obra que é a alma de cada escola. Será que a régua está justa para todos?
O Manual do Julgador do Carnaval 2025 é bem claro: o samba-enredo deve interpretar o enredo de forma artística, com liberdade poética, e a melodia precisa se harmonizar com os versos, facilitando o canto e equilibrando emoção e clareza. Parece simples, certo? Errado! A realidade, segundo especialistas e sambistas, mostra que a prática está bem distante da teoria, com cobranças que, por vezes, ignoram a essência popular e afro-brasileira do samba, e, pior, que por vezes desconsideram o papel do samba como manifestação popular, afro-brasileira e simbólica.
Um dos pontos mais polêmicos veio da avaliação do samba da Unidos de Padre Miguel. A jurada Ana Paula Fernandes criticou o "excesso de palavras em iorubá", alegando que isso prejudicaria o entendimento. Uma declaração que gerou indignação! Afinal, como criticar a linguagem de uma obra que se propõe a mergulhar nas raízes das religiões de matriz africana? Para muitos, essa crítica beira o racismo religioso disfarçado, mostrando um preocupante desconhecimento da riqueza cultural que o samba carrega. Se a proposta era valorizar uma narrativa ligada às religiões de matriz africana, como negar sua linguagem própria?
A Viradouro, campeã do Carnaval 2024, também não escapou da polêmica. O jurado Igor Fagundes, apesar de elogiar o verso "acenda tudo que for de acender" como "belo em letra e melodia", penalizou a escola por uma suposta "dicção comprometida". A incoerência é flagrante: se o problema não está na letra nem na melodia, mas na forma como é cantada, isso não deveria ser avaliado no quesito Harmonia? Essa confusão de critérios levanta sérias dúvidas sobre a objetividade do julgamento, abrindo margem para distorções perigosas.
A Imperatriz Leopoldinense, outra gigante do Carnaval, foi alvo de críticas por "trechos pouco compreensíveis pelo andamento do samba". No entanto, quem estava na Sapucaí ou acompanhou o desfile sabe que o samba da Imperatriz foi um dos mais cantados e elogiados pela potência e clareza, impulsionado pela performance impecável de Pitty de Menezes e da bateria de Mestre Lolo. Penalizar um samba que funcionou perfeitamente na avenida é um erro que desafia a lógica e a própria essência do espetáculo, ferindo a essência do julgamento.
A sensação de "dois pesos e duas medidas" é ainda mais forte quando se analisa a nota máxima dada ao samba da Portela. Apesar de ter sido amplamente questionado por sambistas e especialistas ao longo da temporada por falhas na fluidez melódica, repetições estruturais e uma certa frieza poética diante de um enredo tão promissor, o samba da Águia de Madureira passou ileso pelo julgamento, sem nenhuma crítica. Por que obras potentes e aclamadas pelo público foram punidas, enquanto uma obra visivelmente contestada recebeu a pontuação máxima? Essa disparidade salta aos olhos, fragiliza a credibilidade do julgamento e pode desestimular a inovação e a excelência no samba-enredo.
Os julgadores listaram uma série de problemas, como sambas extensos, fragmentados, com repetições melódicas, versos pouco inspirados, obras "marcheadas" e excesso de clichês. Mas a grande questão é a aparente falta de uma régua única. A subjetividade é inerente ao julgamento artístico, mas precisa ser minimamente ancorada em coerência e conhecimento técnico, e não variar conforme o nome na ficha de avaliação.
Com as disputas de samba para o Carnaval 2026 já a todo vapor, é crucial que essas avaliações sirvam de reflexão. Se a punição à criatividade, ao experimentalismo e à identidade cultural persistir, corremos o risco de ver sambas burocráticos, feitos apenas para passar pela comissão julgadora, e não para emocionar a Marquês de Sapucaí. Isso é perigoso. O samba-enredo é muito mais do que uma partitura com letra e melodia; ele é crônica, poesia, narrativa, resistência. É expressão de um povo que canta sua história e seu presente com liberdade. Cabe aos jurados entender essa complexidade, respeitar os códigos culturais de cada obra e julgar com a responsabilidade que o maior espetáculo da Terra merece.